quarta-feira, outubro 21, 2009

O Mar em Casablanca - Francisco José Viegas

Comecei a ler o livro no dia 14 de Outubro e acabei hoje dia 21 de Outubro de 2009!

O novo romance de Francisco José Viegas, vencedor do Grande Prémio de Romance e Novela da APE, 2005, com a obra Longe de Manaus.

O que une um cadáver encontrado nos bosques que rodeiam o belo Palace do Vidago e um homicídio no cenário deslumbrante do Douro? O que une ambos os crimes às recordações tumultuosas dos acontecimentos de Maio de 1977 em Angola? Jaime Ramos, o detective dos anteriores romances de Francisco José Viegas, regressa para uma nova investigação onde reencontra a sua própria biografia, as recordações do seu passado na guerra colonial - e uma personagem que o persegue como uma sombra, um português repartido por todos os continentes e cuja identidade se mistura com o da memória portuguesa do último século.



História de uma melancolia e de uma perdição, O Mar em Casablanca retoma o modelo das histórias policiais para nos inquietar com uma das personagens mais emblemáticas do romance português de hoje.



Francisco José Viegas (Vila Nova de Foz Côa, 14 de março de 1962) é um escritor e jornalista português.

Viveu, até aos oito anos, na aldeia de Pocinho, concelho de Vila Nova de Foz Côa, hoje a última paragem ferroviária do Douro. Quando os pais, professores primários, se mudaram para Chaves, foi para lá, afim de frequentar o ensino secundário. Mais tarde licenciou-se em Estudos Portugueses, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, e leccionou Linguística (como Assistente) na Universidade de Évora, de 1983 a 1987. Homem religioso, abandonou o catolicismo da sua tradição familiar e converteu-se ao judaísmo.

Com uma intensa actividade jornalística na rádio e na televisão, fez parte da redacção de vários títulos da imprensa portuguesa - Jornal de Letras, Artes e Ideias, Expresso, Semanário, O Liberal, O Jornal, Se7e, Diário de Notícias, O Independente, Record, e as revistas Visão, Notícias Magazine, Elle, Volta ao Mundo, Oceanos. Foi director da LER, da Grande Reportagem e Gazeta dos Desportos. Entre 2006 e 2008 foi director da Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, funções que abandonou para regressar à direcção da LER.

Na televisão, foi autor e apresentador dos programas Escrita em Dia (SIC), Falatório (RTP2), Ler Para Crer (RTP2), Prazeres (RTP1), Um Café no Majestic (RTP2), Primeira Página (RTP1) e Livro Aberto (RTP-N). Apresentou na Antena 1 Escrita em Dia. É autor do blogue Origem das Espécies.

Publicou obras de divulgação, poesia, romances, contos, teatro e relatos de viagens. Em 2006, Longe de Manaus (romance policial) recebeu o Grande Prémio de Romance e Novela, atribuído pela Associação Portuguesa de Escritores. Tem ainda, publicado na imprensa crónicas assinadas com o heterónimo não assumido António Sousa Homem, algumas delas reunidas em livro ("Os Males da Existência - Crónicas de um reaccionário minhoto").

A Minha Opinião:
No inicio do livro, confesso que tive uma certa dificuldade em entrar dentro do enredo e na forma como o escritor escreve. Mas quando a historia começou a ser narrada sobre Angola no período depois do 25 de Abril... mais precisamente no dia 18 de Julho de 1975!!! eu fiquei completamente viciada na história, e queria ler mais e saber mais sobre aquele período. Isto pelo facto de eu ter nascido em Nova Lisboa, Huambo (cidade que também aparece no livro) no dia 17 de Julho de 1975.
Tenho pena de só depois de concluir a sua leitura descobrir que este livro é uma sequência de outros livros, onde o detective José Ramos já aparecia.

Outras Opiniões:
"Cinco anos depois, Francisco José Viegas publica um novo romance protagonizado pelo inspector Jaime Ramos

"O Mar em Casablanca" retoma o espírito deambulatório de "Longe de Manaus" (Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores, em 2005). Mas, ao contrário do anterior volume protagonizado pelo inspector Jaime Ramos, a geografia adquire aqui uma densidade menor, substituída em parte pela turbulenta paisagem interior do polícia envelhecido e fragilizado. A ideia de viagem mantém-se. Através de Ramos, Francisco José Viegas fala do que gosta, quer seja na exaltação dos momentos de pequenos prazeres como fumar, ou nas descrições de variações gastronómicas, quer, no caso em apreço, no empenho com que apresenta gentes e lugares, como se fossem mais um elemento da acção, sendo desta indissociável. No entanto, o exotismo solar e expansivo de "Longe de Manaus", internando-se progressivamente nas idiossincrasias de um país, o Brasil, que é como um continente, transforma-se em "O Mar em Casablanca" num caos tempestuoso. A primeira cena, que mostra um homem (não vou revelar-lhe a identidade para não prejudicar a leitura) numa ponte da cidade do Porto, "uma estátua numa noite de chuva", "debruçado sobre o vazio", dá o tom a toda a obra.

Em "O Mar em Casablanca" há como que um regresso ao passado, às origens. Os cenários são essencialmente domésticos - Chaves, Douro, o Palace Hotel do Vidago. Porquê então o título a apelar a outras paragens? Casablanca surge no livro como um território mítico, uma terra que para além da existência concreta foi reinventada no século XX pelo imaginário cinéfilo, numa referência explícita ao filme homónimo protagonizado por Humphrey Bogart e Ingrid Bergman, zona de romantismo irreal e, no desfecho final da criação de Viegas, símbolo de liberdade e subversão. A arte da fuga em tonalidades cinzentas, posta em prática por duas personagens do livro.

Vamos a factos. Há três cadáveres em "O Mar em Casablanca". Não em simultâneo, mas aparecendo a intervalos na história. Eles são o pretexto para mais uma investigação do inspector Jaime Ramos, secundado pelos subordinados aplicados Isaltino de Jesus e o cabo-verdiano José Corsário. Acontece que é possível estabelecer uma ligação entre as primeiras duas mortes, visto ambos os homens terem sido assassinados pela mesma arma.

Toda a obra é construída em torno da ideia claustrofóbica de que o passado acabou por apanhar o inspector, de que não existe escapatória possível. Ramos, que mascara a fragilidade com cinismo, quase sucumbe a estas forças, enquanto mantém apurado o instinto de polícia dado aos monólogos (o excesso desse recurso é a grande debilidade deste romance), à contemplação poética e à criação de uma boa história capaz de explicar as motivações e psicologia dos prevaricadores.

O "Mar em Casablanca" move-se entre diferentes tempos, o presente e várias camadas de passado (a diáspora portuguesa na Venezuela também é retratada através de duas gerações de aventureiros). Mais do que um policial em sentido estrito (são intencionalmente deixadas várias pontas soltas numa obra que respira subtilezas) esta é uma história de vingança, de lealdade e de amor, vivida por personagens dotadas de um sentido de tragédia que só costuma ocorrer em momentos radicais da História."

Alexandra Macedo

(recensão ao livro "O Mar em Casablanca", publicada na edição de sábado do jornal I)

Tudo começa com um homicídio numa festa de encerramento do Palace Hotel, no Vidago. Ali surge morto um jornalista de economia, Joaquim Seabra, de interesses um pouco nebulosos e com um especial interesse sobre Angola. Depois descobre-se o corpo de um empresário angolano, Benigno Mendonça, junto ao Pinhão, no reino do Vinho do Porto, o Douro.

Jaime Ramos e os seus adjuntos Isaltino de Jesus e José Corsário tentam penetrar para lá do nevoeiro com estas duas mortes e elas vão ter a Angola, a Maio de 1977 e às feridas nunca cicatrizadas desses dias em que muitos desapareceram para sempre. É uma teia de contornos emocionais e também políticos que se tece nestas páginas e que acaba também por nos levar à Guiné, e aos tempos militares de Jaime Ramos.

Se a personagem de Adelino Fontoura é a chave do romance (porque este não é um policial estrito), o mais fascinante neste "O Mar em Casablanca" é o universo do próprio inspector. Jaime Ramos sente as rugas, vai envelhecendo, e o seu olhar sobre o que o cerca (as pessoas, o mundo), é cada vez mais o de alguém que imbuído num imaginário que pouco tem a ver com este presente, olha descrente para o que fascina hoje as pessoas.

"Vim ver o bar, tinha saudades. À medida que se envelhece há mais saudades. Os velhos têm mais saudades. E depois adormecem felizes", lê-se, quando Ramos dialoga com Jorge Alonso, o dono do bar Bonaparte que frequenta há anos infinitos. Mas, claramente, Jaime Ramos não consegue adormecer feliz com o que vê.

É entre um mundo que está a desaparecer e outro que se move à velocidade da luz que Jaime Ramos se movimenta, cambaleando, porque já não conhece perfeitamente o piso que calca. Como lhe diz o velho produtor do Douro: "Estas vinhas são parte desse passado, mas os tempos são outros, mais difíceis, terríveis, bons para quem tem dinheiro vivo, dinheiro fresco. Nós não temos dinheiro, senhor Ramos. Os velhos ricos não têm dinheiro. Temos uma adega, estas vinhas, os retratos da família, vícios nem por isso caros". Resta-lhes, como a Jaime Ramos, uma riqueza maior: a memória.»

Fernando Sobral

1 comentário:

Lígia disse...

Eu estou desejosa de voltar a encontrar o inspector Jaime Ramos ;)
Fui-lhe apresentada no livro "Longe de Manaus" e fiquei encantada com a forma singular como FJV consegue escrever um policial riquíssimo em termos de escrita.
Se quiseres ler o "Longe de Manaus", avisa, está disponível para viajar ;)
Beijinhos