"Quando a Irmã Ignez de São José desfaleceu, Peregrina acorreu-lhe, meteu-a na cama e foi ao jardim colher um ramalhete que simbolizasse a vida de uma freira:
Para a infância de Ignez - Funcho. Colocou um talo desta erva com odor a alcaçuz na mão da amiga doente. O funcho significava a ânsia de mimos. Tal qual uma criança! Lembrava a Ignez a sua infância antes de entrar para o convento, com lindos vestidos de laços. Certamente que o pai a adorava. Quando ele tratava de negócios, Ignez batia o pé exigindo que lhe prestasse atenção.
Chama-se ao funcho a primeira década da vida.
Deu-lhe também uma maçã – fruta de paixão e desejos. Ser uma jovem rapariga! Pensar que se podia dar uma dentada no mundo e sentir o seu sumo escorrer pelo pescoço abaixo!
Como não conseguiu encontrar uma folha de carvalho, Peregrina pediu a Ignez que a imaginasse. O carvalho era a árvore da liberdade. Do fim da guerra. De Ignez aos trinta anos.
Que outra planta devia Peregrina dar-lhe? Uma folha de laranjeira. Tal como o consolo e os ensinamentos de Ignez, o seu odor penetrava tudo.
- Por teres sido uma esplêndida professora e guia sussurrou Peregrina colocando a folha de laranjeira nas mãos de Ignez.
Saberia Ignez que os seus botões eram as flores das noivas?
Podia-se chamar-se aos botões de laranjeira as flores das noivas de Cristo?
Se pelo menos pudemos encontrar uma rosa… se pelo menos o jardim do convento fosse grande! Pediu a Ignez para imaginar uma rosa. Correspondia aos cinquenta anos de Ignez – colorida, encorpada, cheirosa.
Para os sessenta anos da amiga moribunda – cravo-da-índia. Foi roubá-lo à cozinha. Pungente. A planta da dignidade, em forma de estrela.
E agora a casa dos setenta, o fim dela – Peregrina estendeu-lhe uma caneca de água e disse: - Água, a substância que alimenta as plantas, que é absorvida por tudo em que toca. A tua água que se derramou em mim. Tomaste conta de mim e deixaste-me partir sem ciúmes. Fizeste com que Mariana e eu nos encontrássemos.
- Que menina tão esperta! Percorreste toda a minha vida comigo – disse Ignez a arder de febre e tocando no rosto de Peregrina como fizera quando esta, do tamanho de uma boneca, chegara ao convento – Obrigada."
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