E entre estes dois livros não parece haver nada que os ligue, mas acontece que hoje enquanto estava a ler o livro do PAV, encontrei esta passagem, cujo texto vou transcrever:
“E D. João V estava em vésperas de assistir ao corte do seu fio da vida pelas deusas Cloto, Láquesis e Átropos, o que sempre é momento oportuno para um Rei encontrar a fé e tornar-se mais dadivoso”
Quando li este excerto do livro… deu-me um arrepio... não físico mas uma coisa qualquer aconteceu… só pensei que devia de ser uma grande coincidência.
Aqui fica um pouco da história das três deusas:
Na mitologia grega, as moiras eram as três irmãs que determinavam o destino, tanto dos Deuses, quanto dos seres humanos, eram três mulheres lúgubres, responsáveis por fabricar, tecer e cortar aquilo que seria o fio da vida de todos os indivíduos. Durante o trabalho, as moiras fazem uso da Roda da Fortuna, que é o tear utilizado para se tecer os fios, as voltas da roda posicionam o fio do indivíduo em sua parte mais privilegiada (o topo) ou em sua parte menos desejável (o fundo), explicando-se assim os períodos de boa ou má sorte de todos. Conta-se que o deus Ares foi o único ser capaz de submeter as moiras à vontade dele; fora esta excepção, elas jamais foram manipuladas, e nada se pode fazer para detê-las, ou ganhar-lhes o favor (até porque as Moiras entendem que o trabalho delas está mesmo acima delas próprias).
As três deusas decidiam o destino individual dos antigos gregos, e criaram Têmis, Nêmesis e as Erínias. Pertenciam à primeira geração divina (os deuses primordiais), e assim como Nix, eram domadoras de deusas e homens.
As moiras eram filhas de Nix (a noite). As várias versões apresentam as Moiras como filhas do Caos, de Érebo, ou ainda de Têmis e Zeus.
Moira, no singular, era inicialmente o destino. Na Ilíada, representava uma lei que pairava sobre deuses e homens, pois nem Zeus estava autorizado a transgredi-la sem interferir na harmonia cósmica. Na Odisseia aparecem as fiandeiras.
O mito grego predominou entre os romanos a tal ponto que os nomes das divindades caíram em desuso. Entre eles eram conhecidas por Parcas chamadas Nona, Décima e Morta, que tinham respectivamente as funções de presidir a gestação e o nascimento, o crescimento e desenvolvimento, e o final da vida; a morte; notar entretanto, que essa regência era apenas sobre os humanos.
Os poetas da antiguidade descreviam as moiras como donzelas de aspecto sinistro, de grandes dentes e longas unhas. Nas artes plásticas, ao contrário, aparecem representadas como lindas donzelas.
As Moiras eram:
•Cloto em grego significa "fiar", segurava o fuso e tecia o fio da vida. Junto de Ilítia, Ártemis e Hécata, Cloto actuava como deusa dos nascimentos e partos.
•Láquesis em grego significa "sortear" puxava e enrolava o fio tecido, Láquesis actuava junto com Tyche, Pluto, Moros e outros, sorteando o quinhão de atribuições que se ganhava em vida.
•Átropos em grego significa "afastar", ela cortava o fio da vida, Átropos juntamente a Tânatos, Queres e Moros, determinava o fim da vida.
Eis o que diz Karl Kerényi, em seu livro OS DEUSES GREGOS,editora Cultrix, 1997, sobre as Moiras:
AS DEUSAS DO DESTINO (MOIRAS)
"Já tive ocasião de dizer que o próprio Zeus sentia um sagrado e respeitoso temor da deusa Noite. Segundo as narrativas dos discípulos de Orfeu, que deixarei para mais tarde, a própria Nyx era uma deusa tríplice. Entre os filhos da Noite figuravam as deusas do Destino, as Moiras. Essa tradição a respeito delas está no nosso Hesíodo, conquanto ele também afirme que as três deusas eram filhas de Zeus e da deusa Têmis. No dizer dos menos antigos devotos de Orfeu, elas viviam no Céu, numa caverna ao pé do lago cuja água branca jorra da mesma caverna: clara imagem do luar. O nome delas, a palavra moira, significa "parte"; e o seu número, explicam os orfistas, corresponde ao das três "partes"da lua; e é por isso que Orfeu canta "as Moiras de vestes alvas".
Conhecíamos as Moiras, como as Fiandeiras, Klothes, embora apenas a mais velha delas se chame Cloto. A segunda se chama Láquesis, "a Distribuidora"; a terceira, Átropos, "a Inevitável".
Homero, na maioria das vezes, só fala numa Moira, uma única deusa fiandeira, que é "forte", difícil de suportar e "destruidora". As Moiras fiam os dias de nossas vidas, um dos quais se torna, inevitavelmente, o dia da morte. O comprimento do fio que elas atribuem a cada mortal é decidido exclusivamente por elas: nem mesmo Zeus pode influir-lhes na decisão. O máximo que pode fazer é pegar as suas balanças de ouro, de preferência ao meio-dia, e verificar – no caso, por exemplo, de dois adversários que se defrontam – qual deles está destinado a morrer naquele dia. O poder das Moiras vem provavelmente de um tempo anterior ao império de Zeus. E elas nem sempre formam uma Trindade: na famosa e antiga pintura de vaso que retrata o casamento da deusa Tétis com o mortal Peleu, vêem-se quatro Moiras. Em Delfos, por outro lado, somente duas eram adoradas: a Moira do nascimento e a Moira da morte. Eram duas quando participaram da batalha contra os Gigantes – na qual brandiam mãos de almofariz feitas de bronze. Os deuses jovens tinham-lhes pouco respeito. Apolo – conta-nos um antigo dramaturgo – embriagou as três deusas grisalhas a fim de salvar seu amigo Admeto do dia aprazado para a sua morte. Dizia-se que elas presenciaram o nascimento do herói Meleagro em casa do rei Eneu. Cloto profetizou que a criança seria de natureza nobre; Láquesis profetizou-lhe a condição de herói; mas Átropos profetizou que ele viveria apenas enquanto durasse o tronco de árvore que naquele momento se achava no fogo. Ouvindo isso, a mãe, Atléia, salvou o tronco das chamas. Dizia-se também que, das três Klothes, Átropos era a de menor estatura, porém a mais velha e a mais poderosa.
Parca
Em Roma, as Parcas (Moiras gregas) eram três deusas: Nona (Cloto), Décima (Láquesis) e Morta (Átropos). Determinavam o curso da vida humana, decidindo questões como vida e morte, de maneira que nem Júpiter (Zeus) podia contestar suas decisões. Nona tecia o fio da vida, Décima cuidava de sua extensão e caminho, Morta cortava o fio.
Eram também designadas fates, daí o termo fatalidade.
Interessante notar que em Roma se tinha a estrutura de calendário solar para os anos, e lunar para os actuais meses. A gravidez humana é de nove luas, não nove meses; portanto Nona tece o fio da vida no útero materno, até a nona lua; Décima representa o nascimento efectivo, o corte do cordão umbilical, o início da vida terrena, o indivíduo definido, a décima lua. Morta é a outra extremidade, o fim da vida terrena, que pode ocorrer a qualquer momento.
Cloto
A mais jovem das Moiras, mas uma das mais velhas deusas da mitologia grega. Filha de Zeus e Têmis. Cada moira tinha um certo trabalho, fosse fiando o fio da vida, definindo seu cumprimento ou cortando-o. Cloto era quem tecia o fio. O cumprimento era que determinava quanto tempo uma pessoa viveria. Alguns relatos dizem que Cloto era filha da Noite, com isso indicando a escuridão e a obscuridade do destino humano. Ninguém sabe com certeza quanto poder Cloto e suas irmãs tinham, entretanto elas frequentemente desobedeciam Zeus, o regente e outros deuses. Por alguma razão, os deuses pareciam obedecê-las, talvez porque o destino possui grande poder, ou como algumas fontes sugerem, a sua existência é parte da ordem do Universo e isso os deuses não podem perturbar.
Láquesis
"A que dispõe", uma das três Moiras. Ela mede o cumprimento do fio da vida humana tecido por Cloto e determina o seu destino.
Átropos
Uma das três Moiras. Era ela quem cortava o fio da vida tecido por Cloto e mesurado por Láquesis. Era também conhecida como "a inflexível" e "a inevitável". Era filha de Zeus e Têmis (a deusa da ordem).
1 comentário:
:D
Andas a ser "perseguida" pela história das Três Parcas?!
É um mito bem interessante!
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