sábado, março 14, 2009

Extraído do livro A Ilha - Victoria Hislop

esta parte do livro tocou-me:

“Quando o doutor saiu do túnel e o mar agitado dos fins de Outubro ficou à vista, ele viu o barco pequeno balançar para cima e para baixo a cerca de 100 metros da costa e uma mulher de pé no cais. Ela estava a olhar para o mar mas ouviu os passos dele atrás de si e voltou-se. Ao fazê-lo, os seus longos cabelos foram soprados em madeixas à volta da cara dela e dois olhos grandes e ovais fixaram-se nele com esperança.
Há muitos aos atrás, antes da guerra, Kyritsis tinha visitado Florença e tinha visto a imagem cativante de O Nascimento de Vénus, de Botticelli. Com o mar verde acinzentado atrás dela e os seus longos cabelos apanhados pelo vento, Maria evocava fortemente a pintura. Kyritsis até tinha uma estampa emoldurada na parede da sua casa em Heráclion e via agora nesta jovem mulher o mesmo meio sorriso tímido, a mesma inclinação da cabeça, quase interrogativa, a mesma inocência da recém-nascida. No entanto, ele nunca tinha visto uma beleza assim na vida real. Interrompeu o seu caminho. Neste momento, ele não a via como uma paciente, mas como uma mulher e achava que ela era mais bonita do que qualquer uma que ele já tinha visto.
-Doutor Kyritsis – disse ela, despertando-o do seu devaneio com o som do seu próprio nome – Doutor Kyritsis, o meu pai está aqui.
-Sim, sim, obrigado – exclamou ele, subitamente ciente de que devia estar especado a olhar para ela.
Maria segurou o barco com força durante um momento enquanto o médico lá entrava, e a seguir largou-o e atirou-lhe a corda. Quando Kyritsis a apanhou, levantou os olhos para ela. Ele precisava de mais um vislumbre, só para ter mesmo a certeza de que não tinha estado a sonhar. Não tinha. A própria face de Vénus não teria sido mais perfeita.”




O Nascimento de Vênus é uma pintura de Sandro Botticelli, encomendada por Lorenzo di Pierfrancesco de Médici para a Villa Medicea di Castello.
A obra está exposta na Galleria degli Uffizi, em Florença, na Itália. Consiste de têmpera sobre tela e mede 172,5 cm de altura por 278,5 cm de largura.
A pintura representa a deusa Vênus emergindo do mar como mulher adulta, conforme descrito na mitologia grega.
É provável que a obra tenha sido feita por volta de 1483, sob encomenda para Lorenzo di Pierfrancesco, que a teria pedido para enfeitar sua residência, a Villa Medicea di Castello. Alguns estudiosos sugerem que a Vênus pintada para Pierfrancesco, e mencionada por Giorgio Vasari, teria sido outra que não a obra exposta em Florença e estaria perdida até o momento.
Alguns acreditam que a obra seja homenagem ao amor de Giuliano di Piero de' Medici (que morreu em 1478, na Conspiração dos Pazzi) por Simonetta Cattaneo Vespucci, que viveu em Portovenere, uma cidadela à beira-mar. Qualquer que tenha sido a inspiração do artista, parecem haver influências de obras como a "Metamorfose" e "Fasti", ambas de Ovídio, e "Versos", de Poliziano.
No quadro, a deusa clássica Vênus emerge das águas em uma concha, sendo empurrada para a margem pelos Ventos D'oeste, símbolos das paixões espirituais, e recebendo, de uma Hora (as Horas eram as deusas das estações), uma manto bordado de flores. Alguns especialistas argumentam que a deusa nua não representaria a paixão terrena, carnal, e sim a paixão espiritual. Apresenta-se de forma similar a antigas estátuas de mármore (cujo candor teria inspirado o escultor do século XVIII Antonio Canova), esguia e com longos membros e traços harmoniosos.
O efeito causado pelo quadro, no entanto, foi um de paganismo, já que foi pintado em época em que a maioria da produção artística se atinha a temas católicos. Por isso, chega a ser surpreendente que o quadro tenha escapado das fogueiras de Savonarola, que consumiram outras tantas obras de Botticelli que teriam "influências pagãs".
A anatomia da Vênus, assim como vários outros detalhes menores, não revela o estrito realismo clássico de Leonardo da Vinci ou Rafael. O pescoço é irrealisticamente longo e o ombro esquerdo posiciona-se em ângulo anatomicamente improvável. Não se sabe se tais detalhes constituiram erros artísticos ou licença artística, mas não chegam a atrapalhar a beleza da obra, e alguns chegam a sugerir que seriam presságios do vindouro Maneirismo.
O quadro faz parte de série de obras produzidas por Botticelli sob inspiração de descrições atribuídas ao historiador Luciano, do século II, que davam conta de obras-primas da Grécia antiga e que estavam há muito tempo desaparecidas na época de Botticelli. Lá estava descrita a obra Anadyomene Venus, de Apelles ("Anadyome" significa "surgindo do mar"), cujo nome foi o originalmente dado a "O Nascimento de Vênus, que recebeu o atual nome apenas no século XIX. O quadro reproduzido à direita, de Pompéia, provavelmente jamais foi visto por Botticelli, mas é possível que seja uma cópia de Roma Antiga do quadro de Apelles mencionado por Luciano.
Na antigüidade clássica, a concha do mar era metáfora para vagina.
A pose da Vênus de Botticelli remete à "Vênus de Medici", uma escultura de mármore da antigüidade clássica que integrava a coleção dos Médici e que Botticelli teve oportunidade de estudar

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